27 janeiro, 2017

MAR EM MIM - PREFÁCIO


  
PREFÁCIO


Redijo com imensa satisfação este texto para prefaciar Mar em Mim, o primeiro livro de Rosa Marques. Conheci esta autora no segundo semestre de 2015, por intermédio da Internet, na mesma altura em que eu organizava a obra inaugural da Colecção Sui Generis. Uma simples manifestação de interesse em participar na antologia A Bíblia dos Pecadores gerou diversos contactos através das redes sociais e a comunicação entre nós foi-se desenvolvendo. Com o decorrer dos meses, surgiria uma amizade plena de muita cumplicidade. Pude, então, conhecer melhor a escrita desta autora, à medida que recebia (novas) participações para outras obras colectivas. Além disso, ela passou a mostrar-me, também, textos destinados a projectos de outras editoras, para que os pudesse rever.
Era raro o dia em que não me abordava pelo Facebook com um “bom dia”, “boa noite” ou “bom fim-de-semana”. E a troca de opiniões tornou-se uma constante. Foi assim, de dia para dia, que fui conhecendo a essência de Rosa Marques. Pude vislumbrar não só o incrível ser humano que ela é, mas também familiarizar-me, de modo crescente, com a sensibilidade e a delicadeza que impregnam a sua escrita. Quer na prosa, quer na poesia. Sim, na prosa e na poesia... porque esta autora madeirense move-se com bastante à-vontade tanto no universo da prosa como nas ondas da poesia.
Daí a trocarmos ideias sobre a possibilidade de ela editar um livro (individual) foi um passo. E, na parte que me toca, confesso: após ter firmado as primeiras antologias com o selo Sui Generis, era meu objectivo evoluir para a publicação de obras individuais. De minha autoria e não só. A Rosa Marques foi amadurecendo, igualmente, o seu desejo, até que a decisão fosse tomada. Vencido o impasse sobre o género literário que marcaria a sua estreia (prosa, poesia ou um livro infantil), optou por uma obra poética – este livro que se acha nas vossas mãos: Mar em Mim.
E porquê uma obra que reúne 73 poemas dedicados, maioritariamente, à Natureza, às ilhas que a viram nascer e crescer (Madeira) e onde reside e trabalha até à data presente (Porto Santo) e também ao mar que a rodeia – com o qual sempre conviveu?
Porque Mar em Mim resulta de um conjunto de emoções sentidas perante a beleza dessas duas ilhas banhadas pelo Atlântico e o fascínio que o mar e a Natureza exercem (sempre exerceram) na autora. Emoções apreendidas desde a mais tenra idade... quando ela interrompia, durante a sua infância vivida junto à Natureza, as brincadeiras ao ar livre para contemplar o pôr-do-sol e o deslumbramento das árvores recortadas no horizonte em ouro.
Nessa época, Rosa Marques nada sabia ainda sobre os fenómenos da Natureza, porém, aqueles castelos de nuvens luminosas e alaranjadas que se transformavam pouco a pouco, atraindo novas formas e cores, cativavam o seu olhar. Um fascínio que se manteria pela vida fora, até aos dias de hoje. Mas não só...
A diversidade (e beleza) das flores e de árvores como os pinheiros altos, os plátanos, as acácias e as giestas em flor alegraram, igualmente, a sua infância. E o canto dos pássaros, a Lua formosa e altiva, as mudanças operadas na paisagem em cada estação (cada uma com a sua singularidade e a sua doçura) e o mar sempre presente... O mar como elo fundamental para quem vive nas ilhas, sendo necessário transpô-lo para vencer as encostas íngremes da solidão. O mar amigo que fascina e atrai, mas também o mar adverso, condicionando e interpondo-se com toda a sua imponência, que é preciso respeitar.
Todas estas vivências acompanharam a vida da autora como a melhor das recordações. Uma vida inteira passada entre as (suas) duas ilhas. Inicialmente, na Madeira, onde viveu até aos dezoito anos de idade; posteriormente, em Porto Santo, para onde se mudou após o seu casamento. Da necessidade de registar essas lembranças surgiram os poemas incluídos neste livro, que Rosa Marques, incentivada por familiares e pessoas amigas, decidiu publicar.
Mas os textos poéticos aqui apresentados não se debruçam somente sobre o mar, as ilhas e a Natureza. Reflectem também outras situações que preocupam a autora, tais como a instabilidade no mundo e as desigualdades sociais, especialmente as crianças indefesas que sofrem todos os tipos de privações e maus tratos.
Com tão variados temas, como organizar, então, estes poemas? Optou-se pela linha das quatro estações do ano, espalhando-os ao longo da obra. Desse modo, podemos encontrar, nas páginas iniciais, além daquele que fornece o título ao livro e de outros que abordam os temas predominantes, alguns mais sobre crianças (Menino que dorme) e as diversas fases do dia (Na claridade difusa da manhã, Fim de tarde à beira-mar, A cidade veste-se de luar, etc). Prosseguem textos primaveris na sequência de meses relacionados (Abril em flor, por exemplo), mesclados com a ambiência da mesma estação, sem olvidar os sentimentos do coração que adquirem maior visibilidade à medida que o Verão se aproxima. E as ilhas sempre lá. E o mar também. Tal como as crianças, que muito sensibilizam a autora (É Verão! / Há sol, há cor e alegria! / À beira-mar é grande a azáfama, / a euforia... / Das crianças que brincam / falam alto, riem e gritam... / As ondas inquietas vão e vêm / com elas também brincam!).
Nas páginas subsequentes, ganham força outras temáticas... temas nostálgicos... a música que inebria (Música como bálsamo / libertando da solidão!), o amor e a solidão marcando presença, enquanto se vão sentindo os primeiros Ventos outonais. E igualmente a situação daqueles que vivem em condições precárias, o valor da amizade, os livros e a importância da leitura nas nossas vidas.
Particularmente tocantes, já na derradeira estação: o poema dedicado “aos que vivem nas terras áridas onde nada sobrevive devido à seca, como em África, onde todos os dias morrem pessoas à fome” ou Carta ao Pai Natal, que pede “um pouco de conforto” para todas as crianças do mundo. É com estes textos menos “calorosos”, embora não menos sensíveis e humanos, que se vai pintando uma Paisagem de Inverno, em que os temas principais – o mar, as ilhas e a Natureza – se mantêm vincados até à última página.
Poderia desvendar um pouco mais sobre Mar em Mim, esta belíssima obra poética que marca a estreia literária de Rosa Marques. No entanto, reservo aos leitores as emoções que estes 73 poemas despertam; tudo o que faz bem à alma, o que encanta e toca ao coração, a mensagem que cada texto transmite...

Isidro Sousa







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