23 maio, 2017

TORRENTE DE PAIXÕES - PREFÁCIO





PREFÁCIO



O conceito de paixão, tema fulcral desta obra colectiva, tem diferentes usos. Por um lado, trata-se da acção de padecer, o que constitui uma perturbação ou um afecto desordenado da alma, podendo a palavra “paixão” ser utilizada para explicar, neste caso, um forte falecimento ou sofrimento. Além disso, o termo apresenta um significado especial dentro da doutrina cristã. Se a inicial é escrita com letra maiúscula, refere-se à Paixão de Cristo, a Via Crucis (Via Sacra ou caminho da cruz), sendo representada através de uma série de imagens da Paixão, as (quinze) estações correspondentes a incidentes particulares, isto é, o período de martírio que Jesus Cristo terá vivido antes de morrer para salvar a Humanidade – todos os tormentos físicos e psicológicos que teve de enfrentar desde que foi capturado até ser crucificado e posteriormente sepultado, tais como a sua detenção, a negação por Pedro, a condenação à morte por Pôncio Pilatos e, entre outras, a crucificação e a sua ressurreição.
Noutra acepção, conhece-se como paixão a afeição intensa por algo (por exemplo, “O futebol é a minha paixão”) e a forte inclinação de alguém por outra pessoa (“Amo-te com paixão”). No primeiro caso (em que se apresenta esse sentimento por um tema específico – podendo ser também por um objecto), é normal que haja um excesso de entusiasmo ao falar ou lidar com algo de que se gosta e em certas situações, e quando a paixão por determinado assunto é extrema o comportamento da pessoa pode estar associado à obsessão ou beirar o fanatismo. No segundo caso, a paixão relaciona-se com o amor e a atracção sexual. Duas pessoas apaixonadas deixam de lado a racionalidade e comportam-se de forma emocional, já que a paixão é dominada pelo coração e não pelo cérebro. E quando um indivíduo responde à sua paixão, a sua principal intenção é satisfazer desejos e expressar sentimentos sem restrições nem limites.
A psicologia define a paixão como a manifestação do fenómeno da projecção, isto é, quando uma pessoa projecta as suas idealizações noutra pessoa. Estando apaixonados, somos atraídos pela idealização que fazemos do próximo, e não necessariamente pela pessoa como verdadeiramente é, como sucede no acto de amar. As características normalmente mais atraentes para os apaixonados são as físicas, sejam os belos olhos, os lábios, a pele suave ou o sorriso, por exemplo; com o verdadeiro amor conseguimos enxergar muito além das aparências, identificar a chamada “beleza interior” da pessoa, acabando os valores, a autenticidade e a personalidade por serem tão ou mais excitantes do que um belo sorriso.
De facto, a paixão é um sentimento intenso e profundo, por vezes violento, que um indivíduo pode professar por outro, geralmente do sexo oposto mas também do mesmo sexo, e dificulta o exercício de uma lógica imparcial, marcado pelo forte interesse e atracção da pessoa apaixonada por algo ou alguém. Este sentimento possui a capacidade de alterar aspectos do comportamento e pensamento da pessoa, que passa a demonstrar um excesso de admiração por aquilo que lhe causa paixão; não obstante, a impulsividade, o desespero e a inquietação são outras características que costumam estar associadas ao sentimento de paixão.
Qualquer ser humano pode apaixonar-se e a qualquer momento, dependendo de diversos factores associados aos gostos, preferências e referências que cada indivíduo possui. Quando uma pessoa se apaixona por outra, por exemplo, um dos principais sintomas é a intensa atracção sexual e o desejo de estar na companhia da outra. Normalmente, alguém apaixonado pensa constantemente no alvo da sua paixão, anseia por estar perto dessa pessoa, sofre de abstinência quando estão separados e sente uma grande felicidade quando estão juntos. No entanto, mesmo sendo uma emoção intensa, alguns estudos sobre o comportamento humano consideram a paixão efémera, podendo durar semanas ou anos (dois a três anos, em média); após este período, pode chegar ao fim ou transformar-se em amor, que pode durar (ou não) a vida toda.
É sobre o tema das paixões que se exprimem os 134 textos poéticos incluídos nesta antologia (poemas tradicionais e prosa poética), ordenados alfabeticamente pelos títulos e escritos por 40 autores lusófonos – de Portugal, Brasil e Cabo Verde. Cada texto apresenta-se num género ou estilo diferente e todos os autores, cujas notas biográficas se encontram nas páginas finais, são importantes. Alguns já viram os seus trabalhos distinguidos em concursos literários, campeonatos poéticos e certames similares, muitos têm obras individuais editadas e outros publicam, pela primeira vez, os seus poemas num livro. Cada texto contém uma paixão; alguns abordam várias paixões. Mas podemos considerar: cada poema, uma paixão. O que faz desta antologia uma verdadeira Torrente de Paixões.


Isidro Sousa



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