PREFÁCIO
O conceito de
paixão, tema fulcral desta obra colectiva, tem diferentes usos. Por um lado, trata-se
da acção de padecer, o que constitui uma perturbação ou um afecto desordenado
da alma, podendo a palavra “paixão” ser utilizada para explicar, neste caso, um
forte falecimento ou sofrimento. Além disso, o termo apresenta um significado
especial dentro da doutrina cristã. Se a inicial é escrita com letra maiúscula,
refere-se à Paixão de Cristo, a Via Crucis (Via Sacra ou caminho da cruz), sendo
representada através de uma série de imagens da Paixão, as (quinze) estações
correspondentes a incidentes particulares, isto é, o período de martírio que Jesus
Cristo terá vivido antes de morrer para salvar a Humanidade – todos os
tormentos físicos e psicológicos que teve de enfrentar desde que foi capturado até
ser crucificado e posteriormente sepultado, tais como a sua detenção, a negação por Pedro, a condenação à morte por Pôncio
Pilatos e, entre outras, a crucificação e a sua ressurreição.
Noutra acepção,
conhece-se como paixão a afeição intensa por algo (por exemplo, “O futebol é a
minha paixão”) e a forte inclinação de alguém por outra pessoa (“Amo-te com
paixão”). No primeiro caso (em que se apresenta esse sentimento por um tema
específico – podendo ser também por um objecto), é normal que haja um excesso
de entusiasmo ao falar ou lidar com algo de que se gosta e em certas situações,
e quando a paixão por determinado assunto é extrema o comportamento da pessoa
pode estar associado à obsessão ou beirar o fanatismo. No segundo caso, a
paixão relaciona-se com o amor e a atracção sexual. Duas pessoas apaixonadas
deixam de lado a racionalidade e comportam-se de forma emocional, já que a paixão
é dominada pelo coração e não pelo cérebro. E quando um indivíduo responde à
sua paixão, a sua principal intenção é satisfazer desejos e expressar
sentimentos sem restrições nem limites.
A psicologia
define a paixão como a manifestação do fenómeno da projecção, isto é, quando uma
pessoa projecta as suas idealizações noutra pessoa. Estando apaixonados, somos
atraídos pela idealização que fazemos do próximo, e não necessariamente pela
pessoa como verdadeiramente é, como sucede no acto de amar. As características
normalmente mais atraentes para os apaixonados são as físicas, sejam os belos
olhos, os lábios, a pele suave ou o sorriso, por exemplo; com o verdadeiro amor
conseguimos enxergar muito além das aparências, identificar a chamada “beleza
interior” da pessoa, acabando os valores, a autenticidade e a
personalidade por serem tão ou mais excitantes do que um belo sorriso.
De facto, a paixão
é um sentimento intenso e profundo, por vezes violento, que um indivíduo
pode professar por outro, geralmente do sexo oposto mas também do mesmo sexo, e
dificulta o exercício de uma lógica imparcial, marcado pelo forte interesse e
atracção da pessoa apaixonada por algo ou alguém. Este sentimento possui a
capacidade de alterar aspectos do comportamento e pensamento da pessoa, que
passa a demonstrar um excesso de admiração por aquilo que lhe causa paixão; não
obstante, a impulsividade, o desespero e a inquietação são outras
características que costumam estar associadas ao sentimento de paixão.
Qualquer ser humano pode
apaixonar-se e a qualquer momento, dependendo de diversos factores associados aos
gostos, preferências e referências que cada indivíduo possui. Quando uma
pessoa se apaixona por outra, por exemplo, um dos principais sintomas é a
intensa atracção sexual e o desejo de estar na companhia da outra. Normalmente,
alguém apaixonado pensa constantemente no alvo da sua paixão, anseia por estar
perto dessa pessoa, sofre de abstinência quando estão separados e sente uma
grande felicidade quando estão juntos. No entanto, mesmo sendo uma emoção
intensa, alguns estudos sobre o comportamento humano consideram a paixão
efémera, podendo durar semanas ou anos (dois a três anos, em média); após este período, pode chegar ao fim ou transformar-se em amor,
que pode durar (ou não) a vida toda.
É sobre o tema das paixões
que se exprimem os 134 textos poéticos incluídos nesta antologia (poemas tradicionais e prosa poética), ordenados
alfabeticamente pelos títulos e escritos por 40 autores lusófonos – de
Portugal, Brasil e Cabo Verde. Cada texto apresenta-se num género ou estilo
diferente e todos os autores, cujas notas biográficas se encontram nas páginas
finais, são importantes. Alguns já viram os seus trabalhos distinguidos em
concursos literários, campeonatos poéticos e certames similares, muitos têm
obras individuais editadas e outros publicam, pela primeira vez, os seus poemas
num livro. Cada texto contém uma paixão; alguns abordam várias paixões. Mas
podemos considerar: cada poema, uma paixão. O que faz desta antologia uma
verdadeira Torrente de Paixões.
Isidro Sousa
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