04 julho, 2017

AMARGO AMARGAR - PREFÁCIO DE SUZETE FRAGA

   
PREFÁCIO
  

O gosto pela escrita levou-me a conhecer pessoas fantásticas no meio literário, uma dessas pessoas é o meu caro amigo Isidro Sousa. A simpatia e o seu espírito de entreajuda cativaram-me logo. Com o tempo, fui-lhe detetando outras qualidades como a lealdade, humildade, perseverança, persistência e uma dose de perfecionismo que, garanto, roça a obsessão extrema, coisa rara de se encontrar, e, verdade se diga, muito tem contribuído para enriquecer a minha (modesta) bagagem de conhecimentos.
Quando me endereçou o convite para fazer o prefácio do seu primeiro livro fui acometida por um sentimento de orgulho e felicidade tal que nem pensei duas vezes para aceitar semelhante honra e privilégio. A vaidade que se apossou de mim ofuscou, momentaneamente, a grande responsabilidade que me recaía sobre os ombros. Depois, quando desci à Terra, o pânico apoderou-se dos meus dedos. Porque as minhas capacidades estão muito aquém de produzir o prefácio que o Isidro merece.
Prefaciar «Amargo Amargar» é, portanto, uma tarefa hercúlea que me deixa estarrecida e petrificada. Da sua leitura já não posso dizer o mesmo... foi um deleite para a vista e para a alma! Fui abalroada com um cuidado extremo na escolha das palavras, um vocabulário rico e diversificado, enredos alucinantes e um incansável trabalho de pesquisa. Como se não bastasse, com esta obra o autor proporciona ao leitor ingressos para cenários distintos, descritos com uma mestria capaz de atordoar o maior descrente.
Ao ler «A Angústia de Manuela» e «O Casamento de Eulália» tem como destino um plano de ação ambientado no início do século XX, convertendo-se, indubitavelmente, num intruso viciado nos usos e costumes da época, nos palacetes, bailes, casamentos e até nos momentos políticos mais conturbados da nossa História, muito bem corroborados com referências ao Regicídio e às revoltas entre monárquicos e republicanos.
Para os restantes contos o autor recorreu à memória dos seus tempos de meninice e adolescência. Muitos plantaram e arrancaram batatas, ceifaram feno e centeio, colheram e desfolharam milho, cavaram terra, enterraram os pés descalços na água enquanto regavam hortas, batatais e morangais, muitos guardaram cabras e ovelhas nas encostas serris, como o Isidro, mas poucos descrevem a beleza bucólica de forma tão sentida e avassaladora. As narrações pormenorizadas fazem acreditar numa Serra Mourisca verídica e querer visitar as suas imediações: Vila Rica, o Rio Luzio, a Quinta do Mocho, a Igreja Matriz de Vila Rica ou o Parque Arqueológico da Mourisca.
Deus não é ciumento, pois não?” é uma questão que surge em «O Dilema de Beatriz». Ela, uma rocha lapidada na forja madrasta da vida, “sentiu vontade de vomitar o seu infortúnio numa raiva incontrolada...” porque “Até as rochas mais duras agradecem a suave carícia do mar.” Relatos quase fotográficos dão a conhecer o plano arquitetónico da Igreja Matriz de Vila Rica. É neste cenário religioso que: “Um longo silêncio tumular imperava na sua mente absorta em pensamentos que se emaranhavam entre o bem e o mal...
E se com estes excertos a curiosidade já fervilha freneticamente, espere para ler as peripécias em que a pobre viúva Matilde andou metida em «O Susto de Matilde». Mas, antes disso, assista ao romance que tem tanto de arrebatador como de surpreendente. Imperdível o final de João Carlos que “Desfrutou de todas, mas não amou uma única, e nenhuma decerto o amou...” Terá o sentimento que Celina nutria por este jovem aspirante a médico outro nome que não amor? E será mesmo verdade que este jovem não amou uma única mulher? Descubra a resposta em «A Emoção de Celina».
Por esta altura, o coração palpitará, sem dúvida, descompassado com tantas emoções, mas terá de manter-se forte para descobrir o fado de Matias. O cenário agridoce, vou chamar-lhe assim, mexe com o espírito de quem vivencia esta história apaixonante entre Helena e Matias. Inicialmente, reina o silêncio sepulcral, típico dos cemitérios, apenas interrompido pelo piar duma coruja. Depois, com o desenrolar da trama, a morbidez tumular vai desaparecendo para dar lugar a ambientes idílicos e refrescantes. É este conto «Os Olhos de Helena» que o vai fazer implorar por um feitiço que transforme a ficção em realidade, tal é o utopismo empregue.
Poderia romper o teclado com infinitas apreciações sobre este «Amargo Amargar». Ou deixar no ar mais pistas sobre os enredos de «A Angústia de Manuela» ou «O Casamento de Eulália» (distinguido com o segundo prémio no 5º Concurso Literário da Papel D’Arroz), no entanto, esta é uma leitura que peca por tardia; não me parece justo privar os leitores desta obra maravilhosa com mais delongas.
Para finalizar, só uma curiosidade: dou este prefácio por concluído exatamente à mesma hora em que Portugal é aclamado campeão europeu. Se isto não é um bom prenúncio não sei o que o será. Em ambos os casos, foi uma luta incansável contra ventos e marés. Venceu quem mais lutou e deixou tudo em campo. Também no caso do Isidro Sousa o único desfecho possível só pode ser o sucesso. Estou certa de que esta será a primeira de muitas vitórias. Eu serei das primeiras na fila para o desejado autógrafo. Parabéns, Isidro!

Suzete Fraga



  



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